A espontaneidade de falar sobre determinados pontos dessa intimidade torna-se difícil para alguns casais.
Devemos pensar, no entanto, que da mesma maneira que desenvolvemos uma certa intimidade nas amizades e relacionamentos, também o fazemos na área sexual. Ou seja, a conversa, as confidências e o toque são fundamentais. Mas, uma das maiores dificuldades é a abordagem do assunto.
Como e quando começar essa abordagem? Um dos momentos mais propícios é naturalmente nos minutos que precedem a relação (no momento do toque, quando cada um pode dizer ou indicar as áreas que mais lhe excitam; que mais lhe dão prazer).
Muitos maridos desconhecem as áreas erógenas da mulher, tendo apenas um conhecimento geral do assunto. No entanto, sabemos que cada mulher é diferente. Algumas, na própria relação, sentem-se mais à vontade assumindo determinadas posições que outras. Adivinhar não faz parte da habilidade do parceiro. É necessário conversar sobre isso. Percebo que uma grande dificuldade também vem da educação de algumas mulheres. Algumas receberam uma orientação sexual rígida, distorcida, e muitas desconhecem a anatomia do próprio corpo, o que dificulta tremendamente a conquista do prazer.
Na grande virada do movimento feminista, quando foi alardeado que o orgasmo não era só privilégio dos homens, as mulheres automaticamente impuseram-se ter orgasmos a cada relação. Muitas porém não o conseguiam e isso as tornava insatisfeitas ou pior, imaginando que havia algo errado com elas. Os maridos, por sua vez, sentiam-se culpados por não saberem levá-las sempre ao orgasmo. Mais tarde, em pesquisas, descobriu-se que não é em toda relação sexual que a mulher atinge o orgasmo (pelo menos isso acontece com a grande maioria delas).
Portanto, três pontos são importantes para desenvolver essa intimidade:
a) conhecimento do próprio corpo, b) conhecimento sobre sexualidade e c) diálogo.
Lembro-me de duas moças na faixa de seus vinte anos, universitárias, onde o problema estava justamente num dos pontos acima. Ambas solteiras, a primeira confundia a função do clitóris com a da uretra e desconhecia que a grande maioria das mulheres atinge orgasmo através da manipulação clitoriana. A segunda perguntou-me se, na noite do casamento, teria de ficar de camisola e toda coberta na relação sexual. Novamente a rígida educação sexual vinda da família, igreja etc.
Percebo o quanto de desconhecimento ainda existe mesmo com as inúmeras palestras, revistas e estudos sobre sexo. Em algumas igrejas, o assunto ainda é tabu. A vergonha do próprio corpo e da nudez frente ao parceiro é mais comum do que se imagina.
Outra dificuldade está quando o marido aprecia determinadas carícias ou posições e a esposa não — esse é um momento perigoso. Deixar de viver um desejo, licitamente permitido, e não poder fazê-lo porque a esposa se sente constrangida ou com vergonha, com certeza leva o marido à frustração. A chave seria cada um ceder, pelo menos um pouco, a favor do outro. Perceber que o outro se sente satisfeito e completo quando me aventuro a ceder significa que a relação também poderá ser satisfatória, porque nesse momento somos um só. “Uma só carne”, na linguagem bíblica. “Um só” – significa, também, que o prazer do outro também é o meu prazer. Mas, para isso, preciso ceder. Se for possível para mim fazê-lo em determinados pontos, sei que o parceiro também poderá ceder um pouco a meu favor. Estaremos assim no meio do caminho, sem o perigo das frustrações.
Alguns pontos bem mais sérios impedem que a relação sexual seja totalmente satisfatória. Lembro-me de uma moça que ao se casar descobriu que tinha frigidez sexual e, portanto, não gostava e não sentia prazer na relação, passando a evitá-la sistematicamente. Enquanto estava em tratamento, o que deveria surtir um resultado a longo prazo, percebeu que a insatisfação por parte do marido e seu mau humor acentuavam-se a cada dia. Seu descontentamento não se limitava mais somente à relação em si, mas estendia-se também ao trabalho, à casa, à família e a outros pontos. Era evidente a raiz do problema. Decidiu contar-lhe o que se passava e como não lhe era doloroso ter relação, resolveu ceder algumas vezes. O marido caminhou sua parte, não lhe pressionando sistematicamente como fazia antes, e assim, os dois conseguiram ir até o meio do caminho. Ela teve filhos, podendo preencher o lado maternal, que obviamente era igual ao de todas as mães. A satisfação do marido pôde ser recuperada nas outras áreas, pois a raiz do problema tinha sido parcialmente solucionada.
Prazer completo na relação ela continuava a não ter, mas tinha prazer no relacionamento afetivo com seu marido. Creio que o importante, nesse caso, foi a resolução da esposa em admitir contar ao marido o que se passava com ela. Esconder ou “fazer de conta” seria o pior para ambos. Novamente, o diálogo aqui foi fundamental.
Discutir, ler e conhecer mais sobre o assunto é a única maneira de se conseguir desenvolver essa intimidade e conhecer mais sobre as dificuldades e desejos do parceiro. Isso faz com que cada um se sinta mais à vontade e com menos constrangimento para poder se chegar no passo seguinte: colocar em prática o que foi conversado. Marilena Henriques Teixeira Netto
Artigo publicado originalmente em Casal Feliz (Ano IX – No. 33)
http://artigosdepsicologia.wordpress.com/2008/07/20/intimidade-sexual-no-casamento/#more-64
Favor incluir a autora do post:
ResponderExcluirMarilena Henriques Teixeira Netto
Já coloquei...mas se vc observar eu sempre coloco o link de onde eu tiro msg
Excluirabraço