sábado, 16 de setembro de 2006

ABRAÇA-ME

ABRAÇA-ME

Apetece-me
escrever, escrever, escrever...
Escrever desenfreadamente,
encher todas as páginas dos meus cadernos,
as folhas da minha vida,
as paredes do meu mundo.
Pegar em tinta preta e escrever palavras ao acaso,
riscando a monotonia,
a rotina, o medo...
Escrever a nossa história.
Começar na palma da mão,
com uma simples palavra: NÓS.
E percorrer o teu corpo de palavras,
de gestos, de sentimentos.
Transformar o teu corpo
num fabuloso livro de vida.
E então recordar,
reviver os momentos marcantes,
passar por cima dos maus.
E então continuar,
de palavra em palavra,
de vida em vida.
Deixar o teu corpo bruscamente,
impor o meu ritmo...
a minha voz...
a minha palavra...
o meu eu...
Encosto o meu corpo na parede fria,
sinto as suas vibrações,
ouço o silêncio da sua voz
que me pede uma história, uma palavra.
Paro um segundo,
olho para você,
exausta a um canto,
com o corpo coberto de memórias
e isso dá-me forças.
Ergo a mão e escrevo sem parar,
num rasgo de loucura, de insanidade...
escrevo... escrevo... escrevo...
A parede está cheia...
Olho em redor e tudo está minado de palavras.
Um passo em falso,
um gesto mal medido,
é o suficiente para fazer detonar
tudo aquilo que escondemos por medo
por insegurança, por vergonha.
Mas as palavras estão lá,
poderosas, verdadeiras, dolorosas.
Impossível apagá-las, rasgá-las, queimá-las:
são intemporais, eternas.
Poderia apagá-las da parede,
mas continuariam a gritar dentro de mim,
dentro de você,
relembrando-nos a escuridão,
remetendo-nos para a claridade.
Estou tão cansado...
Abraço-te em busca de silêncio, de paz.
As palavras adormeceram,
nada mais se ouve.
Abraça-me com força.

(Francisco Rodrigues)

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