sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Dor Arquivada


Dor Arquivada

Sou organizado,
arquivo minhas dores.
Já arquivei muitas.
Vez por outra,
desarquivo uma...

Algumas permanecem arquivadas
exclusivamente porque já foram dores e,
dores são dores,
tenho-lhes o devido respeito.

Tenho algumas que nem toco,
pois tenho pavor de estragá-las.
Deixo-as como estavam no
dia do arquivamento,
intactas...

Tenho muitas dores arruaceiras,
escandalosas,
dessas que a gente morre
de vergonha quando aparecem.
Mas é evidente que tenho outras,
completamente diferentes,
caladas.
Dessas não gosto ...

Algumas são delicadíssimas,
a dor do primeiro amor desfeito,
é um bom exemplo.
Tenho uma dor bem interessante,
eu diria até que,
inusitada,
uma dor desafinada.
Ora, porque da surpresa?
Paixão solitária dá nisso,
impossível harmonizar...

Sem qualquer constrangimento,
confesso: tenho uma dor...brega.
Isso mesmo...
E quem não tem pelo menos uma?
A minha dor de cotovelo
está na terceira gaveta,
já esteve mais acessível
mas ainda está lá,
É bem grande esse meu arquivo...

Tenho até dor em ordem alfabética...
É um arquivo, organizado.
Quer dizer, mais ou menos...
É, eu tenho uma dor instável...

Já tentei fazê-la desaparecer,
mas é voluntariosa,
tem vida própria.
Uma vez rasguei-a em pedacinhos,
adiantou???
Não...
Mal abri a primeira gaveta,
lá estava ela,
multiplicada...

Arquiva-se e desarquiva-se,
como e quando quer e,
mais, mistura-se com as outras.
Apareceu de tanto eu
abrir e fechar a gaveta.

Difícil lidar com ela.
Desisti...
O Nome dessa dor é
"Saudade..."
Resolvi fazer dela uma amiga...
Essa dor... vai comigo
sempre morar....

By Sandra Falconi

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