sábado, 16 de setembro de 2006

Testamento de um cão...


Testamento de um cão...

Minhas posses materiais são poucas
e eu deixo tudo para você...
Uma coleira mastigada em uma das extremidades,
faltando dois botões,
uma desajeitada cama de cachorro
e uma vasilha de água
que se encontra rachada na borda.
Deixo para você a metade de uma bola de borracha,
uma boneca rasgada que você
vai encontrar debaixo da geladeira,
um ratinho de borracha sem apito
que está debaixo do fogão da cozinha
e uma porção de ossos
enterrados no canteiro de rosas
e sob o assoalho da minha casinha.
Além disso, eu deixo para você a memória,
que aliás são muitas.
Deixo para você a memória
de dois enormes e meigos olhos, marrons,
de uma caudinha curta e espetada,
de um nariz molhado
e de choradeira atrás da porta.
Deixo para você uma mancha no tapete
da sala de estar junto à janela,
quando nas tardes de inverno
eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu,
e me enrolava feito uma bolinha
para pegar um pouco de sol.
Deixo para você um tapete esfarrapado
em frente de sua cadeira preferida,
o qual nunca foi consertado
com o tipo de linha certo.... isso é verdade.
Eu o mastiguei todinho,
quando ainda tinha cinco meses de idade, lembra-se?
Deixo para você um esconderijo
que fiz no jardim debaixo dos arbustos
perto da varanda da frente,
onde eu encontrava asilo
durante aqueles dias de verão.
Ele deve estar cheio de folhas agora
e por isso talvez você tenha
dificuldades em encontrá-lo. Sinto muito!
Deixo também só para você,
o barulho que eu fazia ao sair correndo
sobre as folhas de outono,
quando passeávamos pelo bosque.
Deixo ainda, a lembrança de momentos
pelas manhãs, quando saíamos juntos
pela margem do riacho,
e você me dava aqueles biscoitos de baunilha.
Recordo-me das suas risadas,
porque eu não consegui alcançar
aquele coelho impertinente.
Deixo-lhe como herança minha devoção,
minha simpatia, meu apoio
quando as coisas não iam bem,
meus latidos quando você levantava a voz aborrecido...
e minha frustração por você ter ralhado comigo.
Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão.
No entanto, mesmo sem haver falado
sequer uma palavra em toda a minha vida,
deixo para você o exemplo de paciência,
amor e compreensão.
Sua vida tem sido mais alegre,
porque eu estive ao seu lado!

@Frank Reinshstein

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