terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Por que gostamos de fofocar


É engraçado. Toda vez que uma pessoa diz "nem te conto...", está justamente avisando que, muito ao contrário, ela vai rasgar o verbo e contar pra você, em ricos detalhes, uma história in-crí-vel sobre alguém. É o tipo de frase que sempre vem acompanhada de um sorrisinho malicioso, sobrancelhas dramaticamente levantadas ou, quem sabe, um tom de voz mais baixo, anunciando um segredo, o que, é claro, vai tornar o enredo ainda melhor. E então o que você faz? Banca a socialmente correta e diz que não se interessa pela vida dos outros? Claro que não! Aí é que você se ajeita melhor e apura os ouvidos para não perder uma vírgula.
Pronto: está formada a rede da fofoca. Rede, sim, em pelo menos dois sentidos, pois o disse-que-disse não só flui naturalmente de boca em boca como, muitas vezes, pode se transformar numa armadilha perigosa. Um exemplo disso está numa obra-prima do teatro, Otelo, de William Shakespeare, em que as intrigas de Iago levam o general a matar sua mulher supostamente infiel, Desdêmona, para depois acabar com a própria vida. Ou seja, trata-se de uma arma poderosa, que pode ser deliberadamente usada para favorecer ou denegrir alguém. Tem mais: ao virar uma repetidora, a gente imediatamente passa a ser co-autora da fofoca.
A questão é que contar e ouvir histórias sobre os outros é quase inevitável.

Os principais tipos de fofoca
Quem ranqueia é o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos

Inocentes
"Quando ouvimos problemas sérios de alguém e, por vontade de ajudar, acabamos contando-os a outros em busca de soluções. Para não virar intriga, precisamos ter certeza de que realmente estamos ajudando. O melhor é, antes, nos colocarmos no lugar dos envolvidos."

Inventadas
"São maldosas, de encomenda para destruir alguém, fruto de inveja. A pessoa sabe do que está falando. Também existem fofocas sem fundamento feitas por pessoas com compulsão para mentir ou pelos que aumentam o que ouvem. Gente assim sente um enorme vazio interior, e, quanto maior for a história, mais emocionalmente excitante será a vida." (Essa é a especialidade da jararaca do usina).

Cíclicas
"Às vezes, a ocasião faz o fofoqueiro. Passamos por fases de auto-estima baixa em que o sucesso do outro nos atinge como uma provocação. Fica tão difícil ouvir que as pessoas estão bem, enquanto nos sentimos mal, que tentamos encontrar defeitos nelas e anunciá-los aos quatro ventos."

Como não cair na tentação de fofocar

1. Antes de falar, conte até dez e respire fundo.
2. Avalie bem o que vai dizer. Qual seu objetivo real?
3. Tente imaginar como aquela revelação afetaria a vida dos envolvidos.
4. Não há outro meio de ganhar a confiança ou a cumplicidade de alguém?
5. Lembre-se de que o tiro pode sair pela culatra: nem sempre a fofoca é bem recebida.


Sem autor.

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