quarta-feira, 4 de abril de 2007

O JULGAMENTO


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de Max Lucado

O julgamento mais famoso da história está a ponto de começar. O juiz
é baixinho, mas tem ar de aristocrata, olhar furtivo e roupas finas.
Seu cabelo grisalho é bem aparado e seu rosto sem barba. Ele está
apreensivo, nervoso por ser empurrado para uma decisão que ele não
pode evitar. Dois soldados o conduzem na descida dos degraus de pedra
da fortaleza para o pátio maior. Raios de luz solar matutina
atravessam o chão de pedra.

Quando ele entra, soldados sírios vestindo togas se apressam para
ficar em pé, suas lanças para cima, olhares para a frente. O chão no
qual eles estão em pé é um mosaico de pedras marrons, largas e lisas.
No chão estão riscados os jogos que os soldados usam para se divertir
enquanto esperam a condenação de um prisioneiro.

Mas na presença do procurador, eles não jogam.

Uma cadeira real é colocada numa elevação cinco degraus acima do
chão. O magistrado sobe e toma o assento dele. O acusado é trazido
para a sala e colocado debaixo dele. Um punhado de líderes religiosos
em seus mantos seguem, andam para um lado do quarto, e esperam.

Pilatos olha para a figura solitária.

"Não se parece com um Cristo", ele murmura.

Pés inchados e barrentos. Mãos bronzeadas. Juntas encaroçadas.

Parece mais com um trabalhador braçal do que um professor. O que
menos parece é encrenqueiro.

Um olho está preto, inchado e fechado. O outro olha ao chão. Lábio
inferior partido e coberto por uma casca. Cabelo ensangüentado,
emaranhado à testa. Braços e coxas riscados com vermelho.

“Quer que removamos o manto”? um soldado pergunta.

“Não. Não é necessário”.

É óbvio o que o açoite fez.

“Você é o rei dos judeus”?

Pela primeira vez, Jesus ergue os olhos. Ele não eleva a cabeça, mas
ele ergue os olhos. Ele olha para o procurador por baixo da
sobrancelha dele. Pilatos está surpreso com o tom na voz de Jesus.

“Essas são suas palavras.”

Antes que Pilatos possa responder, o nó de líderes judeus escarnecem
o acusado do lado do tribunal.

“Veja como ele não tem nenhum respeito.”

“Ele incita as pessoas”!

“Ele se diz ser rei”!

Pilatos não os ouve. “Essas são suas palavras.” Nenhuma defesa.
Nenhuma explicação. Nenhum pânico. O Galileu está olhando novamente
para o chão.

Pilatos olha para os líderes judeus grudados um no outro no canto do
tribunal. A insistência deles o chateia. Não bastam as chicotadas. O
escárnio é insuficiente. Ciumentos, ele quer dizer na cara deles, mas
não faz. Urubus Ciumentos, o bando obstinado inteiro de vocês.
Matando seus próprios profetas.

Pilatos quer soltar Jesus. Dê-me apenas uma razão, ele pensa, quase
em voz alta. Eu lhe soltarei.

Os pensamentos dele estão interrompidos por um toque no ombro. Um
mensageiro se abaixa e sussurra. Estranho. A esposa de Pilatos disse
para ele não se envolver no caso. Algo sobre um sonho que ela teve.

Pilatos anda por trás da cadeira dele, senta, e olha fixamente para
Jesus. “Até mesmo os deuses estão de seu lado”? ele declara sem
explicação.

Ele já sentou nesta cadeira antes. É uma cadeira curul (reservada ao
uso das mais altas autoridades): azul de cobalto com pernas grossas e
ornamentadas. O assento tradicional de decisão. Sentando nele Pilatos
transforma qualquer sala ou rua numa sala de tribunal. É daqui que
ele faz as decisões dele.

Quantas vezes ele já sentou aqui? Quantas histórias já ouviu? Quantos
argumentos ele já recebeu? Quantos olhos largos o encararam, rogando
por clemência, mendigando uma absolvição?

Mas os olhos deste Nazareno estão tranqüilos, silenciosos. Eles não
gritam. Eles não correm. Pilatos os examina, procurando ansiedade. .
.. procurando raiva. Ele não encontra. O que ele descobre o faz mexer
novamente.

Ele não está bravo comigo. Ele não tem nenhum medo. . . ele parece
entender.

Pilatos está certo na observação dele. Jesus não tem medo. Ele não
está bravo. Ele não está à beira de pânico. Porque ele não está
surpreso. Jesus conhece a hora dele e a hora chegou.

Pilatos tem motivo para sua curiosidade. Onde estão os seguidores
dele, se é que ele é um líder? O que ele pretende fazer, se ele é um
Messias? Por que os líderes religiosos estão tão bravos com ele, se
ele é um professor?

Pilatos também está correto na pergunta dele. "O que eu deveria fazer
com Jesus, chamado o Cristo? "[1]

Talvez você, como Pilatos, está curioso sobre este homem chamado
Jesus. Você, como Pilatos, está confuso com suas declarações e mexido
com suas paixões. Você ouviu as histórias: Deus descendo as estrelas,
encarnando, colocando uma estaca de verdade no globo. Você, como
Pilatos, ouviu os outros falarem; agora você gostaria que ele
falasse.

O que você faz com um homem que declara ser Deus, mas que odeia
religião? O que você faz com um homem que se chama o Salvador, mas
que condena sistemas? O que você faz com um homem que conhece o lugar
e hora da sua morte, contudo vai lá de qualquer maneira?

A pergunta de Pilatos é sua. "O que farei eu com este homem, Jesus?"

Você tem duas escolhas.

Você pode rejeitá-lo. Isso é uma opção. Você pode, como muitos têm
feito, decidir que a idéia de Deus se tornar um carpinteiro é
estranha demais - e cair fora.

Ou você pode aceitá-lo. Você pode viajar com ele. Você pode escutar a
voz dele entre centenas de outras vozes e segui-lo. Pilatos poderia
ter feito isso. Ele ouviu muitas vozes naquele dia - ele poderia ter
ouvido a Cristo. Se Pilatos escolhido tivesse escolhido responder ao
Messias machucado, a história dele teria sido diferente.

Pilatos vacila. Ele é um cachorrinho ouvindo duas vozes. Ele anda em
direção a um, então pára, e anda em direção à outra. Quatro vezes ele
tenta livrar o Jesus, e quatro vezes ele balança para o outro lado.
Ele tenta dar Barrabás para as pessoas; mas eles querem Jesus. Ele
envia Jesus ao poste de chicoteamento; eles querem que ele seja
mandado para o Gólgota. Ele declara que não acha nada de errado com
este homem; eles acusam Pilatos de violar a lei. Pilatos, temendo
quem Jesus poderia ser, tenta libertá-lo uma última vez; os judeus o
acusam de trair César.

Tantas vozes. A voz do acordo. A voz da conveniência. A voz da
política. A voz da consciência.

E a voz firme e branda de Cristo. "O único poder que você tem sobre
mim é o poder dado a você por Deus". [2]

A voz de Jesus é distinta. Sem igual. Ele não bajula, nem implora.
Ele só declara o caso.

Pilatos pensou que ele poderia evitar fazer uma escolha. Ele lavou as
mãos dele em relação a Jesus. Ele subiu na cerca e se sentou.

Mas, ao não fazer uma escolha, Pilatos fez uma escolha.

Em lugar de pedir a graça de Deus, ele pediu um uivo. Em lugar de
convidar Jesus a ficar, ele o despachou. Em lugar de ouvir a voz de
Cristo, ele ouviu a voz das pessoas.

Diz a lenda que a esposa de Pilatos se tornou uma crente. Diz
a lenda que a casa eterna de Pilatos é um lago numa montanha onde ele
vem à superfície diariamente, ainda mergulhando suas mãos na água em
busca perdão. Sempre tentando lavar a culpa dele . . . não do mal que
ele fez, mas da bondade que ele não fez.

[1] Mateus 27:22
[2] João 18:34

Fonte: www.hermeneutica.com/mensagens

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